quarta-feira, 30 de maio de 2012
Estava nevando, a garota havia ganhado uma capa vermelha de sua mãe. Ela usava-a todos os dias. E por mais fino que fosse o tecido, ela se aquecia com aquele manto. Certa noite, sua mãe mandou-a ir a casa de sua avó fazer-lhe uma visita. A menina não gostou, ela já vinha encontrando alguns lobos pelo seu caminho. Eles não faziam nada à ela, mas ela tinha medo. Ela vivia apavorada com a ideia. Mas ela não queria parecer fraca, vulnerável. Ela pegou sua capa e saiu na escuridão da noite.
Ela ia. Passando pela sombra das árvores, ela encontrou o primeiro lobo de seu caminho. Porém, esse lobo quando à viu, escondeu-se floresta adentro. Ela imaginou se aquele não era um animal tão corajoso quanto aqueles que a encaravam com suas expressões vazias. A sua frente havia uma bifurcação iluminada apenas por tochas nas entradas. A mais curta até a casa de sua avó, estava repleta de lobos, mas não foi isso que a desencorajou a ir por aquele caminho. Ela viu um vulto negro. Chapeuzinho conseguia destingir os seus olhos. Eram vermelhos. Ela não queria topar com aquilo.
Assim, Chapeuzinho escolheu seguir pela vereda mais longa. Ela vinha admirando o caminho, como se cada passo, cada olhar fosse o ultimo.
Quando a garota finalmente chegou a clareira em que ficava a casa de sua avó, viu um lenhador, ele estava apenas olhando para o céu com seu machado em mãos. Ela seguiu, chegou na sacada da casa e entrou. Um lobo estava deitado na cama. Vestia as roupas de sua avó. Ela reconheceu aqueles olhos. Olhos vermelhos. Eram definitivamente do vulto que ela viu na floresta. Ele tinha uma respiração ofegante, quase como um ronco. Ela não esbouçou reação. Ficou em choque. O que havia acontecido com a sua avó? O que? Chapeuzinho não sabia responder. O lobo avistou-a na entrada do quarto. Ela queria desesperadamente sair correndo, mas suas pernas não obedeciam o seu comando. O lobo levantou-se e seguiu na direção da menina.
- Você tem medo da lenda, querida? - O lobo começou.
Sem resposta.
- No lobo. Você sente medo? - Continuou entre um rosnar e outro. Chapeuzinho sabia que aquele era o lobo da lenda. O lobo que segundo a lenda, fora transformado em um semi-humano na lua cheia, por comer o coração de um de seus descendentes. Ela estava apavorada, mas ela não ia admitir aquilo.
- Mas é claro que não. - respondeu ela.
Nisso, o caçador que a garota havia visto na floresta, estava passando pela casa quando ouviu os rosnados do lobo. Olhou para o céu novamente. Lua cheia. O único dia que o lobo, como uma única mordida, consegue criar descendentes. Decidido a não entrar, chegou perto da porta, abriu-a, deixou seu machado na casa e escreveu algo no chão com seu canivete. O caçador então, satisfeito com o que havia acabado de fazer, saiu apressado do lugar.
- Que olhos grandes você tem, vovó. - Indagou a garota, disposta a ganhar o máximo de tempo possível.
- É para observá-la melhor, minha neta. - Respondeu o lobo.
- Que orelhas grandes e pontudas você tem vovó. - Falou ela, pronta para correr a qualquer instante.
- É para ouvi-la melhor, meu bem. - Falou o lobo.
- Mas que dentes grandes você tem vovó. - Só mais um pouco.
- É para melhor poder rasgar a sua pele, meu anjo. - E, já não aguentando mais o jogo, o lobo saltou sobre a menina que correu para a porta. Na entrada, Chapeuzinho achou o machado. E não chão havia escrito: Acredite na lenda. Sem pensar muito, a garota ergueu o machado. O lobo recuou, porém próximo o bastante para ela sentir a sua respiração.
- Eu acredito na lenda. - Falou ela.- Eu não sinto medo do lobo! - Gritou enquanto saltava e arrancava a cabeça do semi-humano com o machado.
Chapeuzinho voltou ao local em que achou o machado, e continuou a ler o que tinha no chão. Tudo tem um início e um fim, ela leu, ateie fogo, não apague, apenas deixe que queime.
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